quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Referenciemos...

Dia 11 de Fevereiro, a pergunta do dia será: "Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?" ou em parcas palavras para o comum português entender: "Concorda com a despenalização do aborto até às 10 semanas?".

É preciso não esquecer e, se a memória não me falha, que temos 10% da população analfabeta e que mais uns não sei quantos por cento de pouca escolaridade, por isso não entendo o porquê de uma pergunta tão comprida e tão cheia de "armadilhas" como esta.

Também convém não esquecer que a D. Alcina, uma extremosa esposa e dona de casa, ao exercer o seu dever de cidadania, convém que saiba ao que está a responder, afinal esta senhora terá um voto no resultado final, tal como qualquer ilustre e letrado senhor doutor, comendador ou embaixador.
Porque isto de eleições e referendos num país democrático, cada cidadão tem direito a um voto, a contrário dos clubes de futebol que dependendo da antiguidade têm direito a 1, 5, 10 ou vinte votos.

Tenho visto alguns programas na televisão, independentemente do canal, nenhum deles está a fazer o serviço público nesta questão. Há uma mania de politizar todos os assuntos e este caso não é excepção.

Felizmente sempre fui educado a pensar pela minha própria cabeça, porque como diz o rapper brasileiro, Marcelo D2: "Eu não preciso de fazer a cabeça, eu já nasci com ela (...)", mas também fui educado a ouvir todas as opiniões e só depois ponderar uma resposta.

Ponto assente em ambas as plataformas do "Sim" e do "Não", é que "isto" (a interrupção voluntária de uma gravidez = o aborto), é uma questão que é relativa às mulheres, sendo assim, e logo eu que não dou muito de meter a foice em seara alheia, não deveria exercer o meu dever de cidadania.

Obviamente não concordo que seja apenas uma questão relativa às mulheres, porque e corrijam-me se estiver incorrecto, o homem também faz parte do processo de reprodução, ou ando um bocado afastado da realidade?
Mas a realidade é que se a mulher quiser abortar fá-lo, seja aqui ou em Espanha sem o consentimento e/ou conhecimento do seu marido ou companheiro.

Um dos trunfos na manga do "Sim" é que o aborto clandestino deixará de existir porque simplesmente não faz sentido...
Sinceramente não acredito que o aborto clandestino deixe de existir! Basta saber quais as principais razões de quem o faz. O público-alvo que o faz, são miúdas (faixa etária entre os 15-25 anos), e a principal razão e mais que óbvia, é de que seja um processo feito no máximo sigilo, às escondidas de familiares e circulo de amigos mais próximo.
Logo, se o público-alvo, não quer que se saiba que teve uma gravidez indesejada, não acredito que deixe de existir o aborto clandestino, este continuará e será feito pelas mesmas razões de sempre.

Sobra um outro público-alvo, aquele (neste caso aquelas, já que é um assunto restrito aos homens), que interrompe voluntariamente uma gravidez clandestinamente, ou portuguesmente falando, que aborta clandestinamente, porque esta gravidez, neste momento não dá muito jeito...

Pelo que escrevi já dá para perceber que sou contra o aborto, antes de ser confundido com um jovem de ideais de direita e muito catolicamente correcto, porque não o sou, nem de perto nem de longe, sou sim a favor da vida, excepto nos casos que já estão contemplados pela lei portuguesa.

Sou a favor do sim à vida, porque sou produto de uma gravidez não planeada, ou por outras palavras, uma gravidez “ora chiça penico, que neste momento não me dá muito jeito”, mas que felizmente os meus pais compensaram no amor e carinho e na educação que me deram como se tivesse sido planeado mesmo antes da fecundação…

Mas como isto é tudo uma questão de modas de se “partidizar” tudo o que vem à baila, fico com a impressão que as pessoas irão votar num referendo onde a liberdade de pensamento está totalmente condicionada pelas inúmeras campanhas e debates que houve. Sendo assim, sinto que a minha liberdade como cidadão foi ferida e sinceramente o boicote, apesar de ser contra a abstenção, me passou pela cabeça.

Estou certo que o sim vencerá e veremos mais tarde se tinha ou não razão, na questão de que o aborto clandestino continuará a existir…

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